A DIGNIDADE DA SEGURANÇA PRIVADA

Em seguida sugerimos a leitura atenta do artigo da autoria de “Júlio Santos”, uma pessoa que dispensa apresentações e que não sendo nem associado da ANASP nem ASP, consegue VER o que muitos cá dentro fingem não ver!
“O que diferencia um homem extraordinário de um homem comum é a capacidade de amar e de se entregar completamente à causa em que acredita.”
A ANASP tem vindo a tentar alertar para esta triste realidade, são necessárias medidas enérgicas no sector. Há responsabilidades no meio de tudo isto, nós ANASP assumimos as nossas, cada um que assuma as suas. Não há inocentes no meio desta história, o importante agora é que cada um faça o que lhe compete na salvaguarda da dignidade de todos os profissionais e do próprio sector!


Ricardo Vieira
(Presidente da Direcção)
28/08/09


“Todos nós cometemos erros na vida. O bom desses erros é saber aprender com eles.
Como lidei de muito perto com a realidade dos Agentes de Segurança Privada (ASP) optei por fazer da defesa dos mesmos, uma das bandeiras da minha intervenção na sociedade.·
Quando fui ASP fui forçado a pendurar a minha roupa em pregos espetados em tábuas corridas, num espaço sujo, cheio de pó e sem iluminação; comia à pressa, o que levava de casa ou o que conseguia comprar a um agiota que vendia comida e bebida junto ao meu então local de trabalho.
Depois, quando mais tarde assumi outras funções na estrutura da Segurança Privada assisti a situações como:
- Os ASP (então Vigilantes) estarem dias e dias sem irem a casa e as mulheres levarem-lhes comida e roupa que mudavam, muitas vezes sem tomar banho;
- Vi camisas brancas ficarem “pretas” de sujidade e suor;
- Assisti a Supervisores e Chefes de Divisão a “roubarem” ASP no número de horas trabalhadas;
- Tomei conhecimento de muito perto de empresas que se enganavam, sempre para o mesmo lado, quando chegava a hora de contabilizar o número de horas extras trabalhadas;
- Assisti a ASP a receber horas extraordinárias por troca de facturas de gasolina colocada em viaturas, cuja matrícula era do autocarro que os transportava diariamente;
- Comprei tickets restaurante a ASP para eles terem liquidez para comprar um maço de tabaco;
- Zanguei-me com Directores Operacionais para que comprassem luvas e agasalhos para os ASP, que prestavam serviço no exterior, expostos à intempérie;
- Esforcei-me ao máximo por municiar os ASP que comigo trabalhavam para que tivessem a formação mínima adequada, muito antes de essa ser obrigatória (o que só aconteceu depois de 1998);
- Choco-me quando verifico que alguns ASP têm de ter carro e usá-lo para terem iluminação no seu local de trabalho utilizando equipamentos de ligar às baterias;
- Choca-me saber que existem ASP que aceitam tomar as suas refeições em nas casas de banho;
- Choca-me saber que existem ASP que urinam para garrafas porque não têm quem os substitua nos postos a tempo e horas;
- Choca-me saber que existem ASP que defecam na roupa porque não têm alternativa de irem ao WC;
- Choca-me saber que existem ASP que furtam nos seus locais de trabalho, muitas vezes para sustentar as necessidades mais básicas das suas famílias
Por último choca-me saber que os Agentes de Segurança Privada, muito se queixam, mas o que fazem para se unir? NADA!
Passados 20 anos de ter passado pela condição de ASP, nada mudou. A quem compete iniciar a mudança? Às empresas? Ou aos principais interessados?
Estar sempre no papel do “queixinhas” é mais cómodo. Fazer acusações de escravidão (como se soubessem a verdadeiro sentido da palavra), também é fácil.
Organizarem-se, unirem-se em prol da Dignidade da profissão!? É muito difícil!
Aliás, as pessoas ligadas à segurança privada em Portugal começando nas empresas, passando pelos clientes e acabando nos ASP, sempre consideraram melhor utilizarem a divisa “Dividir par reinar” do que “Unir para Vencer”.
Desculpem a presunção, mas dispenso os comentários de que tenho razão, porque sei que tenho. Também dispenso estórias pessoais porque conheço-as em quantidade suficiente para escrever um livro.
O que eu gostava mesmo era que todos os que vão ler este texto, caso tenham algo a ver com a matéria, se unam em redor de um só objectivo: MELHORAR A SEGURANÇA PRIVADA EM PORTUGAL.
Nota final: Vou de férias prolongadas com os meus comentários sobre este assunto.”
(Júlio Santos)