Gangs dominam a Sul do Tejo

São os jovens delinquentes e as comunidades imigrantes quem mais preocupa as polícias que investigam os crimes e patrulham a Costa de Caparica, Monte de Caparica, Charneca, Trafaria, Almada, Corroios, Seixal, Barreiro ou Moita, na Margem Sul. A par de Setúbal, são estas zonas, situadas entre o rio Tejo e o rio Sado, que mais contribuem para que o distrito seja o terceiro do País, logo depois de Lisboa e do Porto, com um maior índice de criminalidade, segundo o Relatório Anual de Segurança Interna.
Fontes policiais adiantam ao CM que as comunidades de imigrantes, muitos em situação ilegal, que cresceram sem controlo e enquadramento social na Margem Sul, são, de facto, "um problema grave pelo número de situações de crime violento em que surgem envolvidas".

A Costa de Caparica é um dos locais que a polícia tem sob vigilância apertada. "Pelas condições naturais da Costa instalou-se lá uma grande comunidade imigrante, nomeadamente de cidadãos brasileiros, e que de facto está relacionada com muitos dos crimes graves praticados em toda a Margem Sul", dizem as mesmas fontes policiais.

Sandro Bala – que está foragido no Brasil – é um exemplo. Recrutava compatriotas no país natal, com conhecimentos de jiu--jitsu, utilizando-os depois em extorsões a discotecas, bares e restaurantes. Dominou o crime organizado na Margem Sul e estendeu-se a Lisboa – o Budha Bar e a discoteca W, na capital, foram visitados e destruídos pelo grupo, que pretendia impor serviços de segurança.
Em 2008, o alarme social disparou, provocado por vários jovens imigrantes que na internet se assumiam como representantes em Portugal do Primeiro Comando da Capital (PCC), organização criminosa brasileira responsável por vários motins nas cadeias brasileiras.
Mas o comandante da PSP de Setúbal, Bastos Leitão, chama a atenção para o facto de já acontecer "em muitos assaltos, portugueses falarem com sotaque brasileiro para despistarem a polícia". Por outro lado, os roubos com faca na rua, cometidos por grupos de jovens entre os 12 e os 16, segundo a PSP, são a nova tendência desde o final do ano passado, depois dos assaltos a estabelecimentos. "O Vale da Amoreira é uma zona muito fustigada por este tipo de criminalidade grupal", refere Bastos Leitão. "Já em Almada, actuam de forma mais isolada".
DISCURSO DIRECTO
"ROUBO COM ARMA DE FOGO": Calado de Oliveira, coordenador da PJ de Setúbal

Carlos Freitas Report– Qual é o crime mais investigado pela PJ na área entre o Tejo e o Sado?
Calado de Oliveira – Em toda a área Sul o crime mais investigado é o de roubo com arma de fogo. Já em 2008 e 2009 tinha sido. Têm algum significado os roubos na via pública e a estabelecimentos comerciais, como postos de combustível e pequenos estabelecimentos comerciais.
– E este ano, há alguma alteração no tipo de criminalidade?
– Mantêm-se as tendências, apesar de haver um ligeiro decréscimo deste tipo de crimes no primeiro trimestre deste ano.
– E quanto à criminalidade organizada?
– Os nossos indicadores não apontam para uma organização. Existe uma actividade grupal, com grupos que evoluem diariamente mas que não revelam consistência.
– Qual o perfil do criminoso?
– Muito jovem, com idade entre os 16 e os 25, com pouca instrução e poucos hábitos de trabalho.

"ASSIM QUE CAI A NOITE COMEÇAM OS PROBLEMAS"
O final do ano de 2009 e o início de 2010 foi "a altura mais complicada de assaltos" na Costa de Caparica, segundo o presidente da junta de freguesia, António Neves. Os problemas são muitos: "pouco efectivo da GNR, miséria e toxicodependência", aponta o autarca.

Os concessionários dos bares da Costa de Caparica, situados junto à praia, foram dos primeiros a sentir na pele os efeitos da criminalidade na zona. Quase todos foram já notícia por terem sido alvo de assaltos, com elevados prejuízos.

É o caso do Delícias do Mar, que já foi roubado duas vezes. "Das duas vezes partiram os vidros para entrar. Assim que cai a noite começamos a olhar para as pessoas com outros olhos. Começam os nossos problemas", conta Cristina Lourenço, 38 anos, filha do gerente.
Um pouco mais à frente fica o Espaço 20, que já foi visitado pelos assaltantes em quatro ocasiões. E o método é sempre o mesmo. "Partem os vidros da parte de trás e aproveitam a protecção da duna artificial que está demasiado alta e esconde o bar da estrada", refere, quase conformada, Manuela Cardoso, 44 anos, gerente.
O presidente da junta da Costa de Caparica diz que agora "tudo tem estado mais calmo", até porque, apesar do efectivo pequeno, "tem havido boa acção policial".
GNR DE SETÚBAL

O comandante de Setúbal, coronel Porteira de Almeida, garante que este ano "há uma ligeira descida da criminalidade em geral", apesar de ser ainda um "distrito complicado".

Número de elementos que pertencem às Equipas de Prevenção e Reacção Imediata da PSP e que patrulham todo o distrito de Setúbal em motos de alta cilindrada.
Estimativa do presidente da junta da Costa de Caparica sobre o número de imigrantes brasileiros legais na freguesia.

BOMBAS DE GASOLINA

Setúbal foi o distrito do País que mais assaltos a postos de abastecimento de combustível registou em 2009, com 70 participações à GNR e PSP, seguido do Porto e Braga.
ÁREAS SENSÍVEIS
BAIRRO DA JAMAICA

Situado no Fogueteiro, o Bairro da Jamaica é uma das zonas mais degradadas e que alberga muitas pessoas oriundas, essencialmente, das antigas colónias.

QUINTA DA PRINCESA

Igualmente constituída por pessoas vindas das ex-colónias, a Quinta da Princesa é rival do Bairro da Jamaica no tráfico de droga. Os confrontos com violência são frequentes.
VALE DA AMOREIRA

É uma zona situada na Baixa da Banheira e que preocupa a PSP principalmente por estar associada ao crime violento praticado por gangs formados por jovens.

BAIRRO DO PICA-PAU

Situado no Monte de Caparica, é sobretudo conhecido por ser o ponto de origem de vários gangs juvenis que praticam assaltos no Metro Sul do Tejo e nos autocarros.

QUINTA DO CONDE

É uma vasta área, no concelho de Sesimbra, marcada pelo desordenamento do território e degradação, pela imigração ilegal e pelo tráfico de droga.

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